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Elas defendem exame para todas as mulheres entre 40 e 74 anos.

Saúde

05/03/2025

Entidades médicas pedem faixa etária maior para mamografia de rastreio

As principais sociedades médicas do Brasil apresentaram à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) um parecer solicitando a ampliação da mamografia de rastreio para mulheres de 40 a 74 anos. O documento busca modificar os critérios de certificação de planos de saúde dentro do novo programa de valorização das boas práticas no tratamento do câncer.

Em dezembro, a ANS lançou uma consulta pública sobre a iniciativa e divulgou uma cartilha preliminar que estipulava o rastreamento mamográfico para mulheres de 50 a 69 anos, seguindo as diretrizes do Ministério da Saúde e do Instituto Nacional de Câncer (Inca). O critério gerou protestos por excluir uma parcela da população. Em resposta, a agência abriu um prazo de um mês para que as entidades médicas apresentassem estudos científicos que justificassem a ampliação da faixa etária.

Impacto da ampliação

O parecer, elaborado pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Sociedade Brasileira de Mastologia e Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, argumenta que, em 2024, 22% das mortes por câncer de mama no Brasil ocorreram em mulheres com menos de 50 anos, enquanto 34% foram registradas em pacientes acima dos 70 anos.

Os especialistas destacam que os casos de câncer em mulheres mais jovens estão aumentando e, geralmente, são mais agressivos, com maior risco de metástase. O diagnóstico precoce, segundo o parecer, possibilita tratamentos menos invasivos e reduz a mortalidade.

“No grupo do rastreamento, o tumor é detectado no estágio inicial e apresenta características biológicas menos agressivas, permitindo maior número de cirurgias conservadoras da mama. Essas pacientes também possuem menos indicação de quimioterapia, consequentemente com menores efeitos colaterais do tratamento”, afirma o documento.

Além dos benefícios clínicos, as entidades apontam que a detecção precoce reduz os custos do tratamento, evitando terapias mais complexas e caras.

Opinião do Inca

O diretor-geral do Inca, Roberto Gil, pondera que não há dúvidas sobre a importância do diagnóstico precoce, mas questiona a efetividade do rastreamento para mulheres mais jovens. Segundo ele, a mamografia abaixo dos 50 anos tem maior risco de sobrediagnóstico e pode levar a exames e intervenções desnecessárias.

“A informação científica que temos hoje não é da opinião de um especialista, é da literatura médica, avaliada com o nível de evidência 1. Grande parte dos trabalhos não conseguiu mostrar nenhum aumento de sobrevida na faixa dos 40 aos 50 anos. Só houve aumento de sobrevida na faixa de 50 a 69 anos”, afirmou Gil.

Ele também menciona que a maior densidade da mama em mulheres mais jovens pode gerar falsos positivos, levando a procedimentos invasivos desnecessários.

Desafios da cobertura mamográfica

Tanto o Inca quanto as sociedades médicas concordam sobre a importância do rastreamento organizado, considerado essencial para a redução dos casos de câncer de mama em países desenvolvidos. No entanto, a cobertura da mamografia no Brasil ainda é um desafio.

A Pesquisa Nacional de Saúde de 2019, do IBGE, revelou que menos de 60% das mulheres de 50 a 69 anos realizaram mamografia nos dois anos anteriores à entrevista. Para Gil, ampliar a faixa etária pode prejudicar o acesso das pacientes que já fazem parte do protocolo atual.

Já as entidades médicas temem que a manutenção do critério do Inca na certificação da ANS leve os planos de saúde a negarem exames para mulheres fora da faixa etária recomendada, apesar da cobertura obrigatória. O parecer sustenta que, no setor privado, 53% dos tumores são identificados em pacientes assintomáticas por meio da mamografia e que 40,6% dos casos são diagnosticados ainda no estágio inicial.

A ANS informou que recebeu o documento em 26 de fevereiro e que o Manual de Certificação de Boas Práticas em Atenção Oncológica ainda está sob análise, sem previsão para conclusão. O texto final passará por nova audiência pública antes da implementação definitiva.

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